O exército de um homem só e o analfabetismo político de Campo Largo

Campo Largo vive um fenômeno político peculiar e, ao mesmo tempo, alarmante. No Legislativo municipal, onde a pluralidade de ideias deveria ser a regra, impera uma unanimidade conveniente ao Executivo. Oposição, na prática, não existe – ou melhor, é reduzida a um único vereador que ousa levantar questionamentos em meio a um plenário silenciado pela conveniência política. Uma oposição de um homem só.

O modelo de governabilidade estabelecido pelo atual prefeito Maurício Rivabem é baseado na blindagem política, um jogo de cartas marcadas onde qualquer tentativa de debate sério é rechaçada como irrelevante. Projetos polêmicos passam sem resistência, contas públicas são aprovadas sem escrutínio rigoroso, e questões fundamentais para o município são tratadas como detalhes administrativos sem impacto real na vida das pessoas. Quem ousa discordar, fiscalizar ou simplesmente fazer perguntas incômodas é visto como uma pedra no sapato, tratado como um “do contra”, em vez de ser reconhecido como um agente essencial para a democracia.

Mas há um problema ainda maior do que a omissão do Legislativo: a conivência da mídia local. Campo Largo é uma cidade onde o jornalismo crítico praticamente não existe. Quando alguém questiona as decisões da gestão municipal, logo é rotulado como alarmista, inimigo do progresso ou, no mínimo, um chato que quer apenas causar polêmica. A imprensa, em sua maioria, é terceirizada ou depende diretamente da máquina pública – seja por contratos de publicidade oficial, seja por nomeações políticas. Isso explica o silêncio ensurdecedor diante de escândalos e problemas que em qualquer outra cidade gerariam debates calorosos e manchetes incisivas.

O mais grave é que essa estrutura de poder só se sustenta porque encontra respaldo em uma população despolitizada, vítima do analfabetismo político que insiste em perdurar em Campo Largo. A falta de uma cultura de debate, de participação cidadã ativa e de cobrança efetiva dos governantes transforma a cidade em um cenário de apatia coletiva. Quando alguém levanta uma questão relevante, o discurso padrão da administração e de seus aliados é minimizar: “Ah, mas isso é bobeira, tem coisa mais importante para discutir.” É sempre a mesma estratégia: desqualificar para não precisar responder.

Até quando Campo Largo permanecerá assim? Até quando a cidade aceitará ser governada por uma gestão que se recusa a prestar contas, sustentada por uma base legislativa que não questiona e uma mídia que não investiga? A democracia não é feita apenas de votos a cada quatro anos. Ela exige vigilância, crítica e participação constante.

O exército de um homem só que resiste na Câmara Municipal não deveria ser uma exceção, mas sim a norma. Se houvesse mais representantes comprometidos com a fiscalização e a transparência, se a imprensa local assumisse seu papel de watchdog da sociedade em vez de atuar como assessoria extraoficial do governo, Campo Largo poderia trilhar um caminho diferente.

A mudança começa pela consciência coletiva. Questionar não é atrapalhar. Fiscalizar não é perseguição. Exigir transparência não é “mimimi”. Só quando a população entender isso é que o analfabetismo político começará a ceder espaço para uma cidade mais crítica, exigente e, acima de tudo, democrática.