O novo velho jogo da política campo-larguense: 2025 começa com surpresas e decepções

O ano mal começou, e o cenário político de Campo Largo já oferece material suficiente para um romance de Gabriel García Márquez. Com o reempossado prefeito Maurício Rivabem (PSD) mostrando que, na política, a família vem primeiro — e talvez também o segundo e terceiro lugares —, sua filha Isabella foi nomeada secretária de governo, uma estratégia tão ousada quanto previsível. Afinal, nada diz “eficiência administrativa” como manter o poder em casa.

Mas não parou por aí. Rivabem decidiu inflar a máquina pública, criando mais secretarias em um momento em que os cofres municipais pedem austeridade. E como cereja no bolo, um de seus antigos antagonistas, Alexandre Guimarães, agora brilha como presidente da Câmara Municipal. Apoiado pelo próprio Rivabem, Guimarães é o exemplo vivo de que a política é uma roda gigante: ora se sobe, ora se desce, mas o que importa é nunca descer do brinquedo.

A União dos Antagônicos: Uma Revolução ou Uma Restauração?

A virada de Guimarães é emblemática. Não é apenas a tradicional costura política, é também um retrato fiel de como as promessas de oposição “implacável” podem se transformar em alianças convenientes quando o poder chama. Rivabem, ao que parece, segue a cartilha clássica: se você não pode derrotá-los, cooptá-los. E assim, um discurso outrora inflamado de oposição se torna uma melodia suave de concordância.

Essa dinâmica não é nova, mas é precisamente o que alimenta a desilusão de parte do eleitorado. Campo Largo, como boa parte do Brasil, sofre de uma espécie de fadiga política. Mais de 10% do eleitorado local optaram por não votar nas últimas eleições, seja pela ausência no dia ou pelo voto nulo/branco.

A Desilusão e o Sarcasmo do Povo

“E não era você que prometia mudar tudo isso?” poderia ser a pergunta retórica de um eleitor, caso ainda houvesse esperança para gastar com questões como coerência. Guimarães e Rivabem mostram que, na política, as inimizades são só um detalhe inconveniente diante das possibilidades de alianças oportunas. Afinal, não é preciso ser amigo para dividir o poder, apenas pragmático.

Campo Largo, que um dia foi berço de grandes debates e transformadores avanços políticos, hoje parece ter se rendido a um ciclo repetitivo de mesmice. A população que opta por não votar não o faz por indiferença, mas por um grito silencioso contra essa “superprodução” de incoerência. A mensagem é clara: “Se todos são farinha do mesmo saco, por que perder meu tempo escolhendo o padeiro?”

Uma Reflexão Necessária

A pergunta que fica é: quanto tempo mais essa dinâmica se sustentará? O eleitor, cansado de ser expectador de um teatro previsível, anseia por lideranças que não apenas falem sobre mudança, mas que vivam essa mudança. Enquanto isso não acontece, a abstinência eleitoral continua sendo a forma mais eloquente de protesto em Campo Largo.

No fim, a política campo-larguense começa o ano como terminou o anterior: com alianças improváveis, promessas veladas e a certeza de que, na roda do poder, o eleitor sempre parece ser o último a embarcar.